segunda-feira, 30 de março de 2015

Sempre as francesas

Caroline de Maigret 
Porque não há, efetivamente, publicação de moda que não exalte o bom gosto e discernimento no que ao estilo toca da mulher francesa. Veja-se que as suas bases são rígidas e pouco se têm alterado ao longo de várias décadas. Primam pela elegância despretenciosa, aquela capacidade fantástica de quem nasceu assim e pouco precisa de fazer para ficar fabulosa. Não será, na realidade, um prodígio genético, mas sim uma herança forte e boa instrução para o estilo. Camisas, calças cigarette, blazers de corte irrepreensível, ballerinas, carteiras de modelo clássico, os lenços de pescoço, os cabelos médios, muito pouco trabalhados, na medida certa, a franjinha que faz a delícia dos homens e uma maquilhagem tão natural que parece fundir-se toda na mulher, como uma segunda pele, sem exageros, com um eyeliner bonito e limpo, um batom vermelho que não se adensa na provocação, mas que dá o toque de frescura final. 
Houvesse mais respeito pelo que já está instituído e não se cometeriam os disparates que proliferam por todo o lado. Less is more. Mas less de qualidade, de raça, é exigente e precisa de um background bastante firme para não correr o risco de parecer barato. 

terça-feira, 3 de março de 2015

Traços de personalidade fastidiosa: o discurso da pena.


Recordo, imensas vezes, dos tempos de miúda, quando vinha com a minha mãe, a pé pela aldeia, algumas senhoras mais velhas, com um semblante pesado e medíocre, dialogarem um discurso de loucos, depois de concretizado o cumprimento inicial do "então, como tem passado?"
- Ai menina, cá se anda. Tenho andado muito mal da minha cabeça. Hoje até acordei tonta. Sabe, isto são os nervos. Uma pessoa chega a velha e vê os que gosta a morrerem, é o que é. 
E um rol de queixumes que me maçavam. A minha mãe, sob um impulso humano, cria que havia alguma obrigação de ouvir estas frases deslavadas e lá lhes acalmava os nervos com uma boa hora de conversa fiada e alguma pancadinha nos ombros. Eu, normalmente, recostava-me num muro qualquer, sentava-me e ouvia aquela conversa de adultos, sem piar. 
Quando cheguei à idade do discernimento, lá fui comprovando que, efetivamente, há gente assim, que só me parece estar bem a desfiar os novelos das angústias sobre a primeira alma que lhes apareça pela frente. 
Momentos menos bons, infelizmente, todos os temos. Saber cuidar deles com elegância e alguma sensatez é que nem todos aprenderam. 
Ainda hoje, se for à aldeia onde cresci, se a sorte me apresentar perante uma antiga conhecida, lá terei que emprestar uns bons 20 minutos ao fastidioso discurso da pena própria: Coitadinha de mim que isto e que aquilo; que me dói aqui; que o meu marido é assado ou cozido; que os meus filhos, que até estão muito bem de vida, estão longe, coitadinhos... 
O caso adensa-se quando acontece com gente de fresca idade, com capacidade intelectual para pensar um pouco mais sobre o assunto e perceber que andar a gritar pelo mundo que a vida até nem corre como queremos, é uma tolice. 
De vez em quando, não há ninguém cuja confiança não seja abalada. Faz parte da vida. Desabafar com uma amiga ou familiar de confiança, é ótimo, mas não pode ser a base dessas relações. Falar sempre sobre os aspectos negativos da sua vivência, não traz boas energias, consome as forças e só convida ainda mais à angústia. Se o assunto não se resolve, das duas uma: ou é caso de médico ou então é mesmo caso de pouco juízo. 
Algumas religiões acreditam firmemente que falar sempre de um assunto ruim, traz má sorte, que o chama à nossa presença por mais tempo. Crenças à parte, não é preciso ser muito expedito para perceber que há alguma verdade nisso. Ou então, se houver necessidade de se simplificar, como se diz por aí: mexer na porcaria só faz com que cheire ainda pior.