segunda-feira, 20 de abril de 2015

Os 15 minutos de fama.



Parece-me que estamos num país pouco exigente, que tudo tolera e não faz muito mais do que consumir exaustivamente qualquer porcaria que apareça na TV. Longe de alimentar celeumas sem importância, não me refiro a uma pessoa em particular, mas a toda a organização de programas de fraca categoria, com gente demasiado comercial (se é que me entendem), com uma perspectiva de mercado reles, cuja agenda será encontrar, à estocada, uma pop star do burgo, ao nível das decadentes Rihanna, Lady Gaga e companhia (são mais do que as mães). 
Não faço alusão apenas ao Ídolos, a passar agora num canal generalista, mas a todo o formato destes expeditos caça talentos, preguiçosos e popularuchos. Eles é meninas de vozinhas estridentes e enervantes, rapazes imberbes de viola na mão que, ora acorde acima ora acorde abaixo, palreiam o Bieber, o Mars e parolos dessa espécie. 
Ao invés de se apostar em pessoas com verdadeiro talento, cujo trabalho denota maturidade artística, que criam originais, que emprestam algo de novo à música, que precisam, esses sim, de uma boa rampa de lançamento para mostrarem algo que vale a pena ser mostrado, perde-se tempo a querer imitar os lá de fora. Depois dá nisto, meus senhores. Estava muito bom de ver que ia haver polémica, porque não há povo como o nosso para encontrar cabelos em ovos. E, numa altura em que vale mais um bom par de pernas descascadas, a um profissional de qualidade, vir uma senhora, que até tinha em boa conta, proferir patetices deste tamanho não me surpreende. Hoje, e vai-se a ver o mundo está mesmo ao contrário, ouvir alguém inteligente falar com sabedoria, é que já me causa uma certa estranheza, muito ao género: olha que esta!

sábado, 18 de abril de 2015

Begin Again e os recomeços de John Carney.

Keira Knightley e Adam Levine em Begin Again (2014), de John Carney

Conheci o trabalho de John Carney em 2007, através de Once, filme despretensioso, de baixo orçamento, lindíssimo. Na altura, a música original, Falling Slowly ganhou, de resto, com todo o mérito, o Óscar de melhor canção original. 
O sua mais recente criação é Begin Again, com muita da essência que vemos em Once, mas ligeiramente mais comercial, com atores da primeira linha de Hollywood. Veja-se Keira Knightley que, raramente opta por filmes deste género ou mesmo Mark Buffalo, num registo não muito longe do qual habituou o seu público. O calcanhar de Aquiles para os fãs do cinema mais modesto é a presença de Adam Levine, sobre o qual sou suspeita para falar, devido à sua exposição mediática e trabalho fraquinho nos Maroon 5. Mas isso, caros leitores, são gostos e nunca me deixei levar por egos demasiados inflamados. 
Adiante, que é, afinal, de John Carney que quero escrever. Se contemplarmos, com parcimónia, os dois trabalhos há linhas muito semelhantes, que, por norma, funcionam lindamente no cinema. Vejamos: um rapaz, interpretado pelo músico Glen Hansard, encontra uma intrigante rapariga, depois de uma separação dolorosa, o que ajuda a superar o período de luto. Assim como Gretta, em Begin Again,que se refugia na música, com ajuda de um produtor falido, depois da rotura com o seu namorado de longos anos. Ambos são feridos com a infedelidade dos antigos companheiros e tentam, sob todas as adversidades, ultrapassar os problemas e seguir em frente. 
Isto tudo, ao som de músicas maravilhosas, de uma simplicidade abismal. Em Begin Again, com Lost Stars (nomeada também ao Óscar), interpretada por Adam Levine - o maior pecado do filme, não me canso de repetir e que empresta um não sei quê de foleiro à música, se comparada com a versão cantada por Keira Knightley.

Glen Hansard e Markéta Irglová, em Once (2006)

De facto, todo o enlevo da obra está exatamente na necessidade de recomeçar. Em relação a Once, a personagem opta por perdoar, sob um impulso fatalista, a antiga namorada e exorciza através da música todos os rancores e dúvidas, de forma a encontrar a paz que precisa para abordar, de novo, uma relação doente. Gretta, porventura, mais consciente de si e do seu valor intrínseco, - característica que vai fazendo falta às mulheres do séc. XXI- decide seguir sozinha o seu caminho, sabendo, à parida, que merece um amor pleno. 
Para além do deleite musical, de tudo o que envolve um bom filme, Carney é, essencialmente, bom a fazer cinema porque compreende, com estranha beleza, a complexidade de um recomeço.  

domingo, 12 de abril de 2015

Que trafulhice esta!



Numa era em que tudo está tão acessível para todos, a conquista, a espera fazem parte das coisas boas da vida. Apresentam-se como pequenos luxos contemporâneos, para refugio ao facilitismo e ao desencanto que o imediato pode fazer florescer. Por isso mesmo, mas que trafulhice foram fazer ao colocar online os primeiros quatro episódios da 5ª temporada da Game of Thrones? Ainda não vi e, hipocrisias à parte, talvez ainda veja hoje o primeiro episódio. Mas creio que era escusado. De qualquer das formas, este histerismo à volta da série baseada na literatura homónima de R. R. Martin faz-me uma certa confusão. Quando me interpelam de maneira a dar a minha opinião sobre a obra, costumo, alegremente, referir que "bem, é muita parra para pouca uva". Não quero com isto dizer que não a aprecie, porque estaria a mentir, porém não me parece que haja tanta qualidade e/ou mestria, tanto pelo lado do simpático Sr. Martin (longe de se tornar um Tolkien) tanto como pela produção em si. Para além disso, irão desculpar-me os fãs, mas pede-se mais critério na seleção dos atores. Porque os há magníficos e há os que fazem sofrivelmente o seu trabalho. Mas isso são outras conversas para uma outra altura, quem sabe. 

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Certas coisas que só às mulheres interessam.

Embora haja aquelas a quem isso passa bem ao lado, desde que o mundo é mundo, a mulher sempre demonstrou interesse pelos artefactos decorativos. As nossas ancestrais, gostavam de trazer pedrinhas esculpidas em forma de gota invertida ao pescoço ou ossos mais delicados de animais, para embelezar e iluminar os seus rostos brutos. 
Grace Kelly tão atual, com uma blusa, umas calças de alfaiataria, um cinto masculino e umas alpercatas. Possivelmente, uma toilette de fim de semana em família. 
Portanto, inventar pequenas histórias de amor por produtos de vestuário, marroquinaria, joalharia ou, este de grande fascínio, calçado, é plenamente normal. Anormal, desculpem-me os que discordarão, é não passar nenhum cavaco a isso. Questões de carteira, essas é que se tornam incontornáveis. Mas, vejamos, a título de exemplo, a minha avó paterna, mulher de vida agreste, que nasceu com uns genes fabulosos, fartas madeixas loiras de sol, olhos azuis e uma tez dourada lindíssima, apesar da lavoura, sempre gostou de uma boa água de colónia, de uma carteira bonita e de roupa alegre. O dinheiro não era muito e, para mal dos seus pecados, o meu avó não era homem de grandes paciências, mas lá lhe fazia, muito de vez em quando, uma vontade. Nas épocas festivas, gostava de usar o cabelo apanhado, uma blusinha rendada, muito vitoriana, e um tailleur vermelho. Tinha pouca roupa, mas emprestava-lhe uma luminosidade irrepreensível. Dessa forma, perdoavam-se-lhe os erros de styling. A vida é para aproveitar e há, efetivamente, quem não saiba ou não possa fazer melhor. 

Léa Seydoux com uma toilette de linhas clássicas, com um padrão muito atual. Nota de mérito para o cabelo da atriz que está sempre perfeito. 

Felizmente, provas da passagem do tempo, hoje as senhoras têm uma variedade de bens de consumo disponíveis a preços simpáticos. No entanto, cometem-se erros mais grosseiros do que há 50 anos. Quando há muito por onde escolher, é mais fácil escorregar no que não se deve. É elementar. Não me canso de dizer que a chave para o sucesso está no respeito pelos clássicos. Juntar uma peça de vanguarda com algo instituído como exemplar, há décadas, raramente dá para o torto. Há quem o faça com mestria e há quem passe a vida a tentar. Mal por mal, creio que o maior pecado é não parar 10 minutos por dia para se olhar ao espelho, para retocar a maquilhagem e ajeitar o cabelo. 

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Um amor eterno

Vestido Dolce & Gabbana S/S 2015

É por isto que Dolce & Gabbana será sempre umas das minhas grifes de eleição. Reaviva com mestria os clássicos, respeita as formas femininas e atribuiu ainda mais beleza. Sente-se a inspiração mediterrânica nas cores, nos tecidos ricos, no corte, no styling das modelos em passerelle ou em campanhas de cenário bucólico. Sabem buscar as mulheres mais graciosas para dar vida às suas criações (veja-se Laetitia Casta ou Bianca Balti).

Bianca Balti para Dolce & Gabbana (2012)

Para além disso, tenho especial apreço pela carteira Miss Sicily, que se tornou um modelo quase imutável da grife italiana,e que busca aquele prosaico bonito dos anos 50, em que as senhoras gostavam de usar carteiras mais rígidas, de tamanho médio ou pequeno, para transportar apenas o essencial. Facilmente se lhe adivinha a proveniência se optarmos por um modelo bordado, ou com rendinhas, ou mesmo com os brocados ricos. Um deleite visual que deveria inspirar mais criadores. 

Monica Belluci, usando uma carteira Dolce & Gabbana modelo Miss Sicily, em pele bordada.




I'm no angel ou a ditadura das gordinhas?



Quando a polémica sobre a campanha Perfect Body eclodiu - lá está a mania de problematizar o que não tem importância nenhuma -, as mulheres, muito indignadas com a aparência umas das outras, surgiram em apoio acérrimo: que isto é uma vergonha; que são todas tão magras, coitadas, que parece que não comem; que as gordinhas também são bonitas; que isto é uma ditadura; que querem que todas se transformem num pau de virar tripas; e patati e patata. 
Este tipo de guerras, fomentadas por parcelas residuais de gente preguiçosa, de mal com a sua aparência, não me desperta qualquer simpatia. Considero assaz desmoralizante e ridículo para a condição feminina. Passa-se demasiado tempo a olhar para o aspecto alheio e muito pouco para o espelho que se tem lá por casa. É mais fácil desmoralizar o belo em detrimento do feio. Porque o feio é mais acessível, é sempre mais mesquinho também, o feio advém maioritariamente da preguiça, do desencanto, do desmazelo. O belo, por seu turno, precisa de trabalho, precisa de disciplina, precisa de dedicação diária.


É mais fácil ficar a lamentar a celulite no sofá, ver as comédias românticas da treta que proliferam por aí,  comer ingenuamente uns snacks, com o telemóvel ao lado, para se ir dando uma espreitadela pelo facebook. Uma mulher gorda, porque não sejamos hipócritas, é disso que se trata, para além dos problemas óbvios de saúde, é pessoa que pouco faz para cuidar da sua imagem.
Se nem todas nascemos com a fortuna de genes de uma Candice Swanepoel, temos, de igual forma, a obrigação de saber tirar o melhor partido da figura, nomeadamente, perder peso, se o caso o exigir, de tonificar com alguns exercícios básicos, de cuidar da pele, dos cabelos. Se não estiverem para esses trabalhos, - incumbências pessoais e gostos à parte - pois então assumam-se os erros de vício e deixem-se lá dessas teorias de que o mundo conspira contra vocês e ponha-se fim à fastidiosa expressão do corpo de mulher real.