sexta-feira, 16 de outubro de 2015

H&M Design Award (2014)




O vencedor do ano 2014 do H&M Design Award é um jovem de 24 anos, de nacionalidade francesa, simples e distinto. Eddy Anemian conta que se inspirou na belíssima obra de Jean-Auguste Dominique Ingres e no filme I am love - nomeado para o Óscar de melhor figurino -, de Luca Guadagnino, para criar a coleção They Can Cut All The Flowers, They Cannot Keep Spring From Coming, romântica e ingénua. 


No site da marca, apenas uma peça está disponível, por enquanto, a um preço de segmento médio, o que pode constituir um bom investimento para as amantes do design de autor. 







segunda-feira, 12 de outubro de 2015

O lodaçal



As conversas pelos blogues nacionais estão o espelho da educação torpe das criaturas que habitam este belo pedaço de terra à beira mar plantado. As senhoras, quando toca esganiçarem-se seja pelo que for, tornam-se verdadeiros capetas de saltos. Se, por um lado, há quem se queixe do extremismo de esquerda, pelo outro, ainda mais duvidoso, vem o discurso da superioridade moral deslavado da direita. E porque, de facto, temos direito ao voto, nem que optemos por anémonas com olhos, deixemo-nos de baixarias que isto já parece mal.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Jay Gatsby, um homem ímpar.

 
Leonardo DiCaprio em The Great Gatsby, de Baz Luhrmann.

A foto da semana, aqui no blog - talvez não tenham notado -, pertence a uma das mais belas cenas do cinema dos últimos tempos. Trata-se de DiCaprio, com o seu ar imperial nórdico, vestido como um cavalheiro, ligeiramente excêntrico, rodeado de flores brancas, impaciente, com uma expressão de angústia que haveria de ficar eternizada para as gerações que virão. Sou, inegavelmente, fã do seu trabalho e, por norma, nunca decepciona. Soube desligar-se com mestria do imberbe Jack Dawson de Titanic e talhou a sua carreira, deixando para trás aquela etiqueta desmesurada de sex symbol que qualquer senhor de bom gosto abomina e repele com veemência. 




Em The Great Gatsby, baseado no livro homónimo de um dos maiores nomes da literatura do século passado, Scott Fitzgerald, interpreta Jay Gatsby, um homem cuja riqueza material cria um interessante paradoxo com a sua espiritualidade. Embora um self made man, soube absorver os ensinamentos, a educação de esmero, a cordialidade e toda a sumptuosidade que um homem criado em berço de ouro deveria ter a obrigação de possuir e que tantas vezes refuta em nome da ordinarice, e da sua torpe elasticidade moral. 
Amava incondicionalmente uma mulher, cujo desvelo não lhe seria correspondido da mesma forma. Talvez a tenha amado como apenas se ama em filmes ou em grandes romances literários, mas foi a imagem de um amor puro, despretensioso que soube, como a música diz, deformar tudo ao seu jeito, para que parecesse bonito. E em Jay Gatsby tudo parece belo e magestoso. 


Kate Winslet para The Edit ou a beleza dos seus 40





Kate Winslet para The Edit

Apesar de nunca ter feito parte das minhas beldades de eleição, é inegável a sua raça de english rose, a sua pose assertiva e tranquila, como a de uma verdadeira senhora que sabe ao que vem, como estar e como dirigir com rigor a sua carreira. Toda a gente se lembra da ruivinha de busto farto, impertinente e até ligeiramente tonta, em Titanic. Haveríamos de a relembrar por longos períodos e uma geração inteira de meninas e graúdas invejou-lhe a sorte de co-protagonizar, com Leonardo DiCaprio, uma das mais míticas histórias de amor do cinema Hollywoodesco



Se Kate Winslet não me conquistou lá, fê-lo magistralmente em The Reader, em Revolutionary Road, em The Life of David Gale ou mesmo em Eternal Sunshine of the Spotless Mind. Vê-la tão graciosa no editorial da The Edit, mais bela aos 40 do que aos 20, com uma segurança de discurso e uma forma de diva de outros tempos, faz-me gostar ainda mais dela. 

A entrevista aqui

domingo, 27 de setembro de 2015

Se vos derem limões, não façam como Fiona Gallagher.


Quem acompanha a Shameless, em Portugal transmitida na FOXlife com a tradução pouco abonatório No Limite, conhecerá, de cor, as tropelias e a personalidade, digamos que pouco ortodoxa, de Fiona Gallagher. Para quem não faz ideia do que me refiro, brevemente, explico que a série, que já conta com cinco temporadas, retrata a vida de uma família desestruturada, que vive - lá está talvez a explicação para a tal tradução - no limite da pobreza, da existência e da moralidade. Embora tivesse material mais do que suficiente para se tornar num dramalhão de cortar à faca, os criadores, John Wells e Paul Abbott - também produtor da série homónima inglesa, que estreou em 2004 - fizeram da trama uma verdadeira comédia negra, que ora desperta uma compaixão natural ora nos faz revirar os olhos de nervos, tal é o nonsense do quotidiano.  


Depois de uma breve nota introdutória sobre a série, que não lhe fará, de forma alguma, justiça, deixo ao critério do leitor que a curiosidade o leve a interpretar pelos seus moldes tão complexa obra contemporânea.
Ora sigamos, que não quero maçar com um texto demasiado longo quem me lê e debruçar-me-ei pois sobre uma das personagens principais, Fiona Gallagher, irmã mais velha de uma extensa família de seis irmãos, que carrega, fatidicamente, a responsabilidade da sua criação.
Interpretada por Emmy Rossum, é talvez a personagem mais complexa da série. Primeiro, cimenta uma ligação de amor com o espectador. Ligamo-nos, irremediavelmente, à sua imberbe idade, ao desconsolo que transparece quando as situações se adensam, ao esforço titânico que move a sua existência na qual se ligam, primeiramente, dois adolescentes e três crianças. E aqui o espectador não é poupado. Fiona é retratada cruelmente e todo o caos que encerra o seu crescimento não é amenizado com floreados aos olhos de quem vê. Há desmazelo, fome, pouca instrução escolar, modos rudes, toda uma torpe educação que vai muito para além daquilo que poderíamos esperar à partida.


No entanto, com o decorrer dos episódios, o espectador apercebe-se, de forma bastante explícita, que Fiona é mais do que uma jovem lutadora, que não teme o trabalho, que corre pelo que acredita e que transcende em muito a imagem de boa moça. Borra a pintura com tanta facilidade, desce tão baixo, que chega a incomodar. 


Na verdade, costuma-se dizer que podemos tirar a menina da rulote, dar-lhe uma casa com todas as mordomias, boa comida na mesa, roupa de qualidade, oportunidade de viajar, conhecer o mundo das artes, mas todos deveríamos saber que a rulote não se desvincula do seu modo de ser. Claro que Fiona não foi beijada pela sorte. Mas teve momentos em que poderia ter feito melhor, em que poderia imperar o bom senso. Ser pobre, viver em condições indignas para a nossa existência não nos caracteriza. Já as atitudes, a rudeza, a falta de sentido de oportunidade, a moralidade com que enxergamos o mundo, esses sim. Os criadores e produtores da obra talvez sejam magistrais por isso, por conhecerem a natureza humana e saberem firmemente que, quando a educação de base falha, só com muita disciplina e cuidados, se consegue evoluir sem grandes tropeços. Sair do gueto é uma tarefa inglória e Fiona, até agora, com grande pena minha, enterrou bem os seus dois pés na lama. São festas com drogas variadas à mistura, são relações com os mais variados trastes, são infidelidades de se lhe perder a conta, são tantas as imaturidades e até algumas vilanias que me recordo de dar por mim a tomar-lhe alguma aversão. E garanto-vos que sou pessoa de bastante paciência, mas o que é demais é moléstia.


terça-feira, 22 de setembro de 2015

O inestimável valor da fraternidade





Se se incentivasse a paz com a mesma tenacidade que se fomentam guerrinhas sem importância, o mundo seria um lugar bem melhor. E isto vê-se nas questões mais básicas do quotidiano, assim como nas intervenções mais emergentes, na diplomacia de uma nação. 
Sobre a questão dos refugiados sírios, nota-se bem qual a fibra do povo português. Dos demais, escuso-me falar para não cair nos lugares comuns e fazer como muita gente: opinar genericamente sobre assuntos de natureza muito melindrosa. 
Mas, meus caros, em minha casa, por parte da minha mãe, muito mais generosa do que o meu pai, como, aliás, compete às mulheres, houve a transmissão de ensinamentos básicos de fraternidade. Se houver fartura, pois que se partilhe; se, por outro lado, a miséria nos bater à porta, como diz o outro, onde comem dois, comem três ou quatro. 
Goste-se ou não, os tempos mudaram-nos. Criou-se uma aversão à pobreza, à miséria, aos enjeitados. Outrora dizia-se que na pobreza havia uma certa nobreza de valores, que o dinheiro e o poder nos afetava e corrompia. Na obra de Júlio Diniz, Morgadinha dos Canaviais, talvez a personagem mais nobre dos romances que li, Augusto - a par de Siddhartha Gautam, numa vertente muito mais mística, mas que acaba por cair nos vícios mundanos-, é o símbolo de toda a hombridade, de uma honestidade pura, de uma crença inabalável nos valores e na irrelevância da materialidade. Talvez hoje os Augustos sejam cada vez menos para dar lugar aos imberbes e questionáveis Greys e se tenha substituído a moralidade pela ostentação.
Não sejamos, no entanto, com isso, hipócritas e que não se venda assim, sem mais nem menos, a ideia de que o objetivo supremo será o limiar da pobreza, de forma a captar um nirvana. Mas levantam-se questões mais profundas, de educação, de desenvolvimento humano e de distanciamento pelos mais fracos.
Aqui vos confesso, que esta ganância exacerbada, esta avareza, este desprezo pela vida, em países de um pretensioso estatuto de 1º mundo, me assustam de morte. 


domingo, 9 de agosto de 2015

Cuidados com marroquinaria



Sejam bolsas preciosas ou aquelas que temos em grande estima, mas que até foram um daqueles achados baratos que não conseguimos largar, a marroquinaria, no geral, embora dependendo do material, precisa de manutenção e, quem sabe, se num estado decrépito, de reparação. 

Há uns tempos, eu e a minha irmã oferecemos uma carteira Purification Garcia, uma tote, à minha mãe, para ser usada sem restrições. Pois, mal dos pecados, as suas pequenas alças vermelhas começaram a perder a cor, como se a tinta não tivesse penetrado a pele e se esfarelasse nas mãos. 
Dirigimo-nos ao profissional de confiança do costume, que nos explicou que a única opção viável seria pintar de preto ou castanho. Isto porque, como a carteira foi comprada longe da zona onde moramos, se tornava uma grande maçada fazer a troca. Ficou impecável, toda preta.




De facto, quando não há muito a fazer, quando os truques estão todos esgotados, o mais viável pode ser pintar a carteira. Depois, será uma questão de lhe manter a hidratação do material e assunto arrumado. 



Porém, outros casos há em desvirtua a bolsa e tem de se pensar noutras soluções. Quando, por exemplo - por carolice comprei uma Andy, na cor crú - a carteira é clara e se nota qualquer sujidadezinha, desde poeira até à transferência de microfibras da roupa para o seu material. Enfim, tudo se nota, senhores! No meu caso particular, depois de procurar o mesmo profissional do costume de me garantir que não havia nenhum produtinho maravilhoso para proteger da sujidade, pasmem-se, mas das duas uma: ou se lava com água e sabão azul, com ajuda de uma escova de dentes macia ou uma esponja - processo que retira alguma hidratação, mas que não danifica; ou então passar uma borracha na sujidade. Pois leram bem! Apagar as nódoas que vão aparecendo. No entanto, por recomendação, isto deve fazer-se em casos de desenrasque, porque danifica o material. 

Por fim, para que a vossa marroquinaria dure anos impecavelmente, hidratem o material com vaselina - nalguns tipos de peles não funciona, portanto, na dúvida, procurem um profissional de confiança - ou usem graxa de sapatos e, muito de vez em quando, demorem-se uns minutinhos nisso, não esquecendo que se deve passar, no final, um pano limpo e seco para retirar os excessos depositados. 


Quanto a arrumos, de resto é de senso comum, dust bag e um saquinho de sílica para proteger da humidade.

 

domingo, 2 de agosto de 2015

Momento de epifania de Noel Gallagher?



Valha-nos alguma crença na humanidade. Até os pedregulhos podem evoluir e este é brutinho que lhe baste e língua de trapo - não obstante que de vez em quando lá diz uma verdade ou outra. À parte disso tudo, ao menos teve uma réstia de hombridade para admitir as falhas e querer uma educação mais esmerada para a prole. Mas lendo atentamente as declarações, pronto, borra de imediato a figura e puxa novamente para o arrivismo: ora fala de carros, roupas caras, colégios privados, enfim, tudo o que o dinheiro pode comprar. Não sejamos hipócritas, não vem daí mal ao mundo, mas todas essas coisas se transformam em pó quando a educação de base, a moralidade e a boa instrução falham. Com um pai cujo talento não precisa de mais provas, mas sem nenhuma noção de classe, espero bem, parafraseando um desejo seu: "... que não sejam rufias..."


quarta-feira, 29 de julho de 2015

Outro conto sobre a falsa ignorância.

Em relação à notícia que dá conta da insatisfação de Jane Birkin referente aos métodos de abate dos  crocodilos para a confeção das carteiras Hermés, com a sua assinatura, há diversos pormenores que me ocorrem. Vejamos: 
1 - Está bem que a senhora, recolhida no seu sossego, foi contactada pela PETA (e muitíssimo bem), sobre o assunto. Poderia ter-se abstido de fazer comentários, mas ficar-lhe-ia mal. No entanto, não desvalorizando o impacto que isto pode ter na mudança de paradigma - o que me parece estar muito longe de acontecer -, Jane Birkin nunca havia perdido dois minutos do seu preciosíssimo tempo para pensar a respeito? Não estão as notícias espalhadas para quem as quiser ler e/ou ver? Precisa realmente de ser interpelada para agir? Ora que maçada. 


2 - Em relação à marca francesa, de luxo inquestionável, que responde com luvas do mais fino tecido, há uma carência total de ética e de moralidade. Veja-se que se salvaguardam com o desconhecimento de causa, que aqueles pobres animais não são usados para as suas carteiras; que os seus, com sorte, até têm direito a spa e aos mais belos restaurantes gourmet



Façam-me rir, senhores! Estas vilanias são suportáveis pela maior parte dos consumidores, nos diferentes estratos sociais. Tanto o pobre como o rico gostam de ostentar. A feira das vaidades, porém, tem outro encanto quando se tratam de griffes milionárias e aí a crueldade não é apenas com as pobres vaquinhas, com as ovelhas e por aí fora. É também com os animais exóticos, porque há quem assim o demande. E, meus caros, se há quem compre e se passeie alegremente com estas modas da crueldade, então em que raio de mundo cremos andar para empresas abdicarem de lucros estrondosos? 

Já aqui deixei a minha opinião em relação a assuntos desta natureza (aqui e aqui), portanto, podem vir as Jane Birkins que vierem, que, a mim, por enquanto, não me turbam as vistas com falinhas mansas. 

sábado, 11 de julho de 2015

Belíssimas inspirações

Com tanta toilette linda de morrer pela Semana da Moda de Paris, vamos lá ver se as mulheres se inspiram. 









quarta-feira, 1 de julho de 2015

Mais vale uma tonta com bom coração do que uma mulher inteligente e maléfica.

Jessica Chastain e Octavia Spencer, em The Help

Não há maior defeito numa mulher do que a sua falta de compaixão. Tolero com ligeireza e até uma certa curiosidade senhoras burrinhas, mas que entendam a sua condição e tentem minimizar os danos. É mais fácil aceitar e conviver com alguém pouco inteligente, mas de bom coração, que demonstra transparência no discurso e que usa de ações nobres para estar no mundo.
A inteligência, para o bem ou para o mal, é uma arma poderosa que, se usada por alguém maquiavélico pode ter consequências devastadoras.


Está certo que sou apologista que as pessoas se cultivem, tentem evoluir intelectualmente. E até creio que só pessoas demasiado faustosas travam a sua evolução natural. Costuma dizer-se que a humildade antecede a honra. Se não nos colocarmos numa posição mais vulnerável dos seres, como poderemos ser magistrais e compreender toda a essência da vida?
Sobre este assunto, a título de exemplo, lembro-me da bonita obra de Tate Taylor, baseada no livro homónimo de Kathryn Stockett - The Help - que soube observar de forma ímpar, os recantos mais obscuros dos bairros da classe média alta de uma pequena cidade no Mississipi.
O casal Foote, em The Help

Sobre a obra, muito bem retratada no filme, um marco nos anos 60, para os Direitos Civis nos Estados Unidos, que incide maioritariamente sobre o drama das más condições a que as empregadas domésticas estavam sujeitas, para além da personalidade muito rica das empregadas a dias e babysitters, verdadeiramente amorosas e pacientes; da crença inabalável e do caráter sindicalista de Eugenia; a personagem que mais me marcou foi Celia Foote, interpretada pela deslumbrante Jessica Chastain.
Celia, nascida numa família humilde, sem grandes posses, teve um passado de tropeços. Em jovem deixou a escola, teve inúmeros romances com verdadeiros trastes, era ingénua, humilde, despretensiosa e linda de morrer. Razão pela qual, um cavalheiro de boas famílias haveria de lhe fazer a corte, deixando de lado uma antiga namorada, azeda e mesquinha, de famílias abonadas, com uma instrução privilegiada - Hilly Holbrook - que nunca conseguiu superar a desfeita.
Desde o momento em que o casal Foote chegou à cidade de Jackson , houve todo um alarido à volta de Celia e do seu elegante esposo. Johnny Foote nunca se mostrou alarmado e convivia tranquilamente com os cochichos da vizinhança. Para a esposa, cujo objetivo era ser aceite nos círculos sociais, nas tertúlias maçadoras das senhoras de bom nome do burgo, a vida não foi fácil. Celia tinha um coração de ouro, era linda, vestia maravilhosamente - embora lhe criticassem as roupas coleantes e os decotes profundos -, muito afável, mas tinha um passado pouco abonatório, uma parda instrução e ousara "roubar" um pretendente de Hilly, cuja família tinha imensa influência no círculo político e social da cidade.
Hilly Holbrook, em The Help.

Hilly, elegante de uma forma mais discreta, snob, narcisista, preconceituosa, representava a antítese da rival. Ociosa, gostava de passar os seus dias em reuniões com as amigas, onde se entretinham na maledicência, aborrecia-se com os deveres maternais e relegava responsabilidades que só a ela competiam à empregada doméstica. Acreditava, empedernida, que pertencia à estirpe superior, distratava os empregados, histérica e intransigente, cria  que a educação, o berço e o dinheiro lhe conferiam um estatuto intocável e um inabalável valor moral.  Detestava afincadamente Celia e tudo o que representava. Vedava-lhe a entrada nas festas, humilhava-a quando a oportunidade surgia, usava a sua inteligência para o mal. Celia, infelizmente, por ser tontinha, apesar de excelente pessoa, não conseguia responder-lhe à letra, amuava, entristecia-se, isolava-se em pranto. Trazia no peito uma dor imensa, almejava a maternidade, mas teve de aceitar a sua fortuna.
Johnny amava-a por toda a sua bondade, pela compaixão que demonstrava pelas pessoas - a sua melhor amiga era a sua empregada doméstica, espezinhada outrora por Hilly -, por ser espontânea, por o que lhe faltava em inteligência, em fluência de francês, em regras de etiqueta, em esmero na cozinha, ser contrabalançado com a beleza de espírito.
Ora podem-se tirar bastantes ilações da história de Celia e Hilly, nem que não seja o facto de que ser graciosa tem mais a ver com bondade do que com uma afanada cultura geral, uma instrução exímia, que serve de bandeira para encher o peito e que, no final das contas, se usada para fins pouco poéticos, é apenas mais uma caraterística pueril.



quarta-feira, 10 de junho de 2015

Bedelia du Maurier, uma mulher elegante mas imprudente.

Gillion Anderson, representando Bedilia Du Maurier em Hannibal de Brian Fuller. 

Há uns meses à espera de saber se Hannibal voltaria para uma terceira temporada - questões financeiras envolvidas -, qual não foi a minha alegria quando foi comprada pelo AXN. O compromisso de Brian Fuller é fazer valer um legado imensurável, está certo, mas se não houver telespetadores, o caldo entorna-se. Pelo que me parece que ou é desta que a série dá um pulo estratégico ou será muito difícil mantê-la no ar. A defraudar as expectativas há sempre uma generalidade pelo vulgar. Está mais do que sabido que não será obra de agradar a um mar de gente - veja-se o fenómeno a nível planetário de Game of Thrones, misturando ingredientes que funcionam sempre e colam até os mais tontinhos ao ecrã. Fuller não trabalha a esse nível e eleva a fasquia a um patamar que muito poucos podem alcançar. 


The devil is in the details, nas pequenas coisas que vão passando despercebidas aos mais incautos, mas que se não estiverem pensados de forma hábil, depressa cairão por terra. Talvez seja nesse ponto que Bedelia, a minha personagem feminina preferida da trama, se encontra. Não é, com certeza, apenas um detalhe, mas a sua sumptuosidade e credibilidade devem-se ao grau meticuloso com que cada um deles foi pensado.  Bedelia du Maurir expressa-se eloquentemente - característica base das personagens principais da série -, de voz calma e arrastada, com uma doçura sinistra; usa gestos demorados na sua linguagem corporal. Nota-se que se trata de uma senhora de requinte, bem educada e com uma instrução irrepreensível. Veste-se maravilhosamente, com blusas de seda e cetim, em cores preciosas e ricas, com cortes simples, intemporais e clássicos. As suas saias lápis, assim como os vestidos, sempre no comprimento ora abaixo ou ligeiramente acima do joelho, como convém a uma senhora da sua idade. As suas madeixas loiras fazem lembrar um certo old Hollywood, com as ondas a emoldurar o rosto delicado, de pele leitosa e suave. 


Há uns tempos disse que Hannibal não é homem de mentir compulsivamente. Pelo contrário, arrasta as verdades para o seu mundo particular e manipula-as a seu proveito, característica muito partilhada por psicopatas da pior espécie. Já em Bedelia, sente-se uma fragilidade, um desconsolo eminente, o que a torna estranhamente previsível. Talvez o seu encanto, para além da fisionomia e formas de mulher bela, resida aí. Uma senhora inteligente, culta, de trato requintado, absorvida por uma tristeza mortificante, um antagonismo entre culpa e prazer, torna-se numa peculiar ponte entre Hannibal Lecter e o mundo do mais comum dos mortais e uma tépida presunção de romance. De qualquer forma, Bedelia du Maurir é, acima de tudo, uma mulher imprudente, entorpecida pelo domínio do seu companheiro. Com grande pena, não preciso de capacidades sobrenaturais para lhe adivinhar um destino cruel. Na ficção, tal como na vida real, dormir com o inimigo nunca representará uma boa aposta. 

domingo, 7 de junho de 2015

Self made woman ou como dar a volta às circunstâncias


Gabrielle Bonheur Chanel, na sua juventude. 
Há dias vi um filme belíssimo, sobre a vida de Gabrielle Bonheur Chanel, que viria a tornar-se numa das mulheres mais conceituadas e respeitadas na indústria da moda. 
É impossível não criar um certo desvelo pela personagem e não pensar no poder de encaixe que uma mulher precisava ter no começo do século passado - não assim há tanto tempo. Com 12 anos, infortúnio causado pela morte da mãe, Gabrielle foi deixada aos cuidados de um orfanato e cuidou sempre de ocultar esse facto, religiosamente. Muitos poderão crer que seria uma forma de proteção, que se sentiria vexada das suas origens. Pelo que fui recolhendo sobre a sua fabulosa personalidade, parece-me que evitava falatórios desnecessários, mas, acima de tudo, os olhares piedosos. Pois qualquer mulher que se preze sabe perfeitamente que entre almejar a pena ou a inveja, prefira-se a segunda. 

Audrey Tautou, como Coco Chanel, em Coco Avant Chanel, de Anne Fontaine (2009)

Não poderei dizer que o seu percurso foi imaculado, que a ordem natural e prosaica dos acontecimentos se despoletou sem sujar as mãos. Coco, como lhe chamavam, soube aproveitar o que a genética lhe emprestou, a sua boa disposição, o seu maravilhoso poder de encaixe e fez dos limões uma bela limonada, diga-se de passagem. Pelo meio - porque as histórias bonitas têm o seu lado obscuro - teve de suportar as carícias de um estroina, desrespeitador, que a tinha em algum apreço, mas cuja educação estava longe de fazer dele um cavalheiro em condições. Viveu algum tempo como sua concubina, embora petulante e assertiva, motivo pelo qual despertava imenso encanto. 



Um dia a sorte haveria de lhe trazer um grande amor, Arthur Capel, que é retratado como senhor varonil, de trato fácil e de uma eloquência fabulosa. Infelizmente, viria a casar-se com uma dama do seu círculo social, relegando Gabrielle para um papel pouco honroso de amante. 


Os famosos tailleurs Chanel
Sem Capel não seria, no entanto, possível à Srª. Chanel a independência económica. Depois do atelier em nome próprio a história já é sabida e o percurso foi sempre na direção ascendente. 
Talvez o que melhor se aproveita do exemplo fabuloso de Coco Chanel seja o facto de não se ter resignado à sua sorte. Procurou evoluir, sob todas as adversidades e, embora não lhe possa gabar as escolhas românticas, uma coisa é certa: não foi nenhum trambolhozinho a viver à custa de um qualquer homem. Usou o seu talento e a sua metodologia de trabalho, adquiriu a sua independência económica e gravou o seu nome na história. 

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Sinais dos tempos



"Metade do mundo não consegue perceber os prazeres da outra metade. "

Jane Austen

Uma das maiores mudanças ao nível social para as mulheres do nosso tempo, é a capacidade instantânea de cada uma poder exprimir-se e fazer valer a sua vontade sem ter de recorrer a ardis, aprendidos há muito, algures, talvez numa corte francesa, e trazida como herança de educação para as gerações vindouras. Hoje as mulheres detêm um desprendimento que ora lhes dá imenso jeito, que ora lhes atrasa as emoções e as embrutece ligeiramente. São os sinais de mudança e, talvez, daqui a largos anos, os sociólogos cataloguem a nossa sociedade como profundamente egocêntrica. 


Há umas semanas, em conversa trivial com um professor, discutíamos a natalidade, o estado da Nação e do Mundo, muito ao estilo corriqueiro, de isto não anda nada bem, são os sinais dos tempos, estou a ver a vida a andar para trás. Claro que se trata de um exagero, que estamos mais evoluídos do que há 100 anos e, que, à semelhança do que acontece em todas as civilizações antes de a mudança ser assimilada, há vozes que contestam e que se insurgem contra tamanho disparate. Eu, na casa dos trinta; o meu professor, uma geração acima, na casa dos cinquenta. Basta uma diferença, ilusória de 20 anos, para que o discurso se torne tendencioso e caia nos mesmos vícios e chavões. 


Ele crê que as mulheres estão egoístas. Eu creio que estão mais evoluídas e poderão ter perdido o rumo. Mas não corroboro com o cliché de que uma mulher com um apelo excessivo a si, não quererá, à partida, procriar. Como poderá um homem, um ser totalmente diferente, que percepciona o mundo através de emoções contrárias às nossas, opinar sobre uma questão tão feminina? Fez-me lembrar uns fulanos que tecem comentários sobre questões de amamentação. Pois, caros leitores, costumo dizer, em tom jucoso: cada um sabe onde o seu calo lhe dói. De resto, cavalheiros em condições têm um temperamento instruído para não esmiuçarem questões que a eles não lhes dizem respeito. 

A propósito do tema, nunca acreditei que questões de maternidade se prendessem com egoísmos nem altruísmos. Ou se deseja intensamente ou não se faz caso disso e segue-se em frente, à espera do que a vida trará, ou, simplesmente, se afasta a perspectiva da maternidade. Seja qual for o rumo que uma senhora dê à sua vida, assuntos tão delicados, não podem ser tratados com ligeireza. E, verdade seja dita, só os tolos não contestam a instrução sentimental, cheia de falhas, cuja maior agenda é a continuação da espécie. O tudo se cria está cada vez mais poeirento e enegrecido e basta-nos pensar, por escassos minutos, para perceber que a ignorância é o regozijo dos ditadores e é ela que impede o Homem, num contexto amplo e global, de evoluir. Portanto, esqueçam-se de vez as frases feitas e tolas e entenda-se, de uma vez por todas, que os desejos e ambições de cada indivíduo, só a ele diz respeito e que a reflexão é sinal de astúcia. 

sábado, 2 de maio de 2015

Deixemos os saltos em casa.

Caroline de Maigret com umas Stan Smith, tão na moda agora. 
Esta semana fui ver um concerto aqui na minha terra e eis que me pus a pensar numa questão deveras pertinete, sobre os hábitos das mulheres portuguesas, no que toca ao calçado. Pois que a maioria das senhoras opta pelos saltos altos, independentemente da ocasião pedir sapatos mais confortáveis. Bem sei que a maioria das mulheres portuguesas têm uma estatura miúdinha, e formas muito acentuadas, razão pela qual, por vezes, se sentem mais confortáveis com tacões vertiginosos. 

Toilette composta por uns sapatos Oxford.
No entanto, correndo o risco de parecer paradoxal, uns bons 12 cm numa mulher de 1,60 m, pode refletir-se numa grande desproporcionalidade. 12 cm nessa pessoa, representa cerca de 7,5% da sua altura. O que pode nem ser assustador, mas será que quer mesmo passar os seus dias e noites em cima de tamanha vertiginosidade?

Vejamos, os saltos são maravilhosos, um verdadeiro deleite para a figura, mas não sejamos gananciosas. Primeiramente, analise-se a estrutura do corpo e depois, num acto de parcimónia imensurável, experimentam-se diversas soluções até considerar o verdadeiro sapato milagroso. Com um tacão baixo, médio ou alto. 
Porém, situações há em que não há muito a fazer. É descer do salto, aceitar a altura que a fortuna nos deu e criar uma toilette digna. Senhoras em pé durante horas, num ambiente descontraído, envergando saltos de stripper - perdoem-me as meninas da área - é feio e denota alguma insegurança, para não dizer, falta de sentido estético. 

As eternas All Star numa toilette cuidada.


segunda-feira, 20 de abril de 2015

Os 15 minutos de fama.



Parece-me que estamos num país pouco exigente, que tudo tolera e não faz muito mais do que consumir exaustivamente qualquer porcaria que apareça na TV. Longe de alimentar celeumas sem importância, não me refiro a uma pessoa em particular, mas a toda a organização de programas de fraca categoria, com gente demasiado comercial (se é que me entendem), com uma perspectiva de mercado reles, cuja agenda será encontrar, à estocada, uma pop star do burgo, ao nível das decadentes Rihanna, Lady Gaga e companhia (são mais do que as mães). 
Não faço alusão apenas ao Ídolos, a passar agora num canal generalista, mas a todo o formato destes expeditos caça talentos, preguiçosos e popularuchos. Eles é meninas de vozinhas estridentes e enervantes, rapazes imberbes de viola na mão que, ora acorde acima ora acorde abaixo, palreiam o Bieber, o Mars e parolos dessa espécie. 
Ao invés de se apostar em pessoas com verdadeiro talento, cujo trabalho denota maturidade artística, que criam originais, que emprestam algo de novo à música, que precisam, esses sim, de uma boa rampa de lançamento para mostrarem algo que vale a pena ser mostrado, perde-se tempo a querer imitar os lá de fora. Depois dá nisto, meus senhores. Estava muito bom de ver que ia haver polémica, porque não há povo como o nosso para encontrar cabelos em ovos. E, numa altura em que vale mais um bom par de pernas descascadas, a um profissional de qualidade, vir uma senhora, que até tinha em boa conta, proferir patetices deste tamanho não me surpreende. Hoje, e vai-se a ver o mundo está mesmo ao contrário, ouvir alguém inteligente falar com sabedoria, é que já me causa uma certa estranheza, muito ao género: olha que esta!

sábado, 18 de abril de 2015

Begin Again e os recomeços de John Carney.

Keira Knightley e Adam Levine em Begin Again (2014), de John Carney

Conheci o trabalho de John Carney em 2007, através de Once, filme despretensioso, de baixo orçamento, lindíssimo. Na altura, a música original, Falling Slowly ganhou, de resto, com todo o mérito, o Óscar de melhor canção original. 
O sua mais recente criação é Begin Again, com muita da essência que vemos em Once, mas ligeiramente mais comercial, com atores da primeira linha de Hollywood. Veja-se Keira Knightley que, raramente opta por filmes deste género ou mesmo Mark Buffalo, num registo não muito longe do qual habituou o seu público. O calcanhar de Aquiles para os fãs do cinema mais modesto é a presença de Adam Levine, sobre o qual sou suspeita para falar, devido à sua exposição mediática e trabalho fraquinho nos Maroon 5. Mas isso, caros leitores, são gostos e nunca me deixei levar por egos demasiados inflamados. 
Adiante, que é, afinal, de John Carney que quero escrever. Se contemplarmos, com parcimónia, os dois trabalhos há linhas muito semelhantes, que, por norma, funcionam lindamente no cinema. Vejamos: um rapaz, interpretado pelo músico Glen Hansard, encontra uma intrigante rapariga, depois de uma separação dolorosa, o que ajuda a superar o período de luto. Assim como Gretta, em Begin Again,que se refugia na música, com ajuda de um produtor falido, depois da rotura com o seu namorado de longos anos. Ambos são feridos com a infedelidade dos antigos companheiros e tentam, sob todas as adversidades, ultrapassar os problemas e seguir em frente. 
Isto tudo, ao som de músicas maravilhosas, de uma simplicidade abismal. Em Begin Again, com Lost Stars (nomeada também ao Óscar), interpretada por Adam Levine - o maior pecado do filme, não me canso de repetir e que empresta um não sei quê de foleiro à música, se comparada com a versão cantada por Keira Knightley.

Glen Hansard e Markéta Irglová, em Once (2006)

De facto, todo o enlevo da obra está exatamente na necessidade de recomeçar. Em relação a Once, a personagem opta por perdoar, sob um impulso fatalista, a antiga namorada e exorciza através da música todos os rancores e dúvidas, de forma a encontrar a paz que precisa para abordar, de novo, uma relação doente. Gretta, porventura, mais consciente de si e do seu valor intrínseco, - característica que vai fazendo falta às mulheres do séc. XXI- decide seguir sozinha o seu caminho, sabendo, à parida, que merece um amor pleno. 
Para além do deleite musical, de tudo o que envolve um bom filme, Carney é, essencialmente, bom a fazer cinema porque compreende, com estranha beleza, a complexidade de um recomeço.  

domingo, 12 de abril de 2015

Que trafulhice esta!



Numa era em que tudo está tão acessível para todos, a conquista, a espera fazem parte das coisas boas da vida. Apresentam-se como pequenos luxos contemporâneos, para refugio ao facilitismo e ao desencanto que o imediato pode fazer florescer. Por isso mesmo, mas que trafulhice foram fazer ao colocar online os primeiros quatro episódios da 5ª temporada da Game of Thrones? Ainda não vi e, hipocrisias à parte, talvez ainda veja hoje o primeiro episódio. Mas creio que era escusado. De qualquer das formas, este histerismo à volta da série baseada na literatura homónima de R. R. Martin faz-me uma certa confusão. Quando me interpelam de maneira a dar a minha opinião sobre a obra, costumo, alegremente, referir que "bem, é muita parra para pouca uva". Não quero com isto dizer que não a aprecie, porque estaria a mentir, porém não me parece que haja tanta qualidade e/ou mestria, tanto pelo lado do simpático Sr. Martin (longe de se tornar um Tolkien) tanto como pela produção em si. Para além disso, irão desculpar-me os fãs, mas pede-se mais critério na seleção dos atores. Porque os há magníficos e há os que fazem sofrivelmente o seu trabalho. Mas isso são outras conversas para uma outra altura, quem sabe. 

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Certas coisas que só às mulheres interessam.

Embora haja aquelas a quem isso passa bem ao lado, desde que o mundo é mundo, a mulher sempre demonstrou interesse pelos artefactos decorativos. As nossas ancestrais, gostavam de trazer pedrinhas esculpidas em forma de gota invertida ao pescoço ou ossos mais delicados de animais, para embelezar e iluminar os seus rostos brutos. 
Grace Kelly tão atual, com uma blusa, umas calças de alfaiataria, um cinto masculino e umas alpercatas. Possivelmente, uma toilette de fim de semana em família. 
Portanto, inventar pequenas histórias de amor por produtos de vestuário, marroquinaria, joalharia ou, este de grande fascínio, calçado, é plenamente normal. Anormal, desculpem-me os que discordarão, é não passar nenhum cavaco a isso. Questões de carteira, essas é que se tornam incontornáveis. Mas, vejamos, a título de exemplo, a minha avó paterna, mulher de vida agreste, que nasceu com uns genes fabulosos, fartas madeixas loiras de sol, olhos azuis e uma tez dourada lindíssima, apesar da lavoura, sempre gostou de uma boa água de colónia, de uma carteira bonita e de roupa alegre. O dinheiro não era muito e, para mal dos seus pecados, o meu avó não era homem de grandes paciências, mas lá lhe fazia, muito de vez em quando, uma vontade. Nas épocas festivas, gostava de usar o cabelo apanhado, uma blusinha rendada, muito vitoriana, e um tailleur vermelho. Tinha pouca roupa, mas emprestava-lhe uma luminosidade irrepreensível. Dessa forma, perdoavam-se-lhe os erros de styling. A vida é para aproveitar e há, efetivamente, quem não saiba ou não possa fazer melhor. 

Léa Seydoux com uma toilette de linhas clássicas, com um padrão muito atual. Nota de mérito para o cabelo da atriz que está sempre perfeito. 

Felizmente, provas da passagem do tempo, hoje as senhoras têm uma variedade de bens de consumo disponíveis a preços simpáticos. No entanto, cometem-se erros mais grosseiros do que há 50 anos. Quando há muito por onde escolher, é mais fácil escorregar no que não se deve. É elementar. Não me canso de dizer que a chave para o sucesso está no respeito pelos clássicos. Juntar uma peça de vanguarda com algo instituído como exemplar, há décadas, raramente dá para o torto. Há quem o faça com mestria e há quem passe a vida a tentar. Mal por mal, creio que o maior pecado é não parar 10 minutos por dia para se olhar ao espelho, para retocar a maquilhagem e ajeitar o cabelo. 

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Um amor eterno

Vestido Dolce & Gabbana S/S 2015

É por isto que Dolce & Gabbana será sempre umas das minhas grifes de eleição. Reaviva com mestria os clássicos, respeita as formas femininas e atribuiu ainda mais beleza. Sente-se a inspiração mediterrânica nas cores, nos tecidos ricos, no corte, no styling das modelos em passerelle ou em campanhas de cenário bucólico. Sabem buscar as mulheres mais graciosas para dar vida às suas criações (veja-se Laetitia Casta ou Bianca Balti).

Bianca Balti para Dolce & Gabbana (2012)

Para além disso, tenho especial apreço pela carteira Miss Sicily, que se tornou um modelo quase imutável da grife italiana,e que busca aquele prosaico bonito dos anos 50, em que as senhoras gostavam de usar carteiras mais rígidas, de tamanho médio ou pequeno, para transportar apenas o essencial. Facilmente se lhe adivinha a proveniência se optarmos por um modelo bordado, ou com rendinhas, ou mesmo com os brocados ricos. Um deleite visual que deveria inspirar mais criadores. 

Monica Belluci, usando uma carteira Dolce & Gabbana modelo Miss Sicily, em pele bordada.