domingo, 7 de junho de 2015

Self made woman ou como dar a volta às circunstâncias


Gabrielle Bonheur Chanel, na sua juventude. 
Há dias vi um filme belíssimo, sobre a vida de Gabrielle Bonheur Chanel, que viria a tornar-se numa das mulheres mais conceituadas e respeitadas na indústria da moda. 
É impossível não criar um certo desvelo pela personagem e não pensar no poder de encaixe que uma mulher precisava ter no começo do século passado - não assim há tanto tempo. Com 12 anos, infortúnio causado pela morte da mãe, Gabrielle foi deixada aos cuidados de um orfanato e cuidou sempre de ocultar esse facto, religiosamente. Muitos poderão crer que seria uma forma de proteção, que se sentiria vexada das suas origens. Pelo que fui recolhendo sobre a sua fabulosa personalidade, parece-me que evitava falatórios desnecessários, mas, acima de tudo, os olhares piedosos. Pois qualquer mulher que se preze sabe perfeitamente que entre almejar a pena ou a inveja, prefira-se a segunda. 

Audrey Tautou, como Coco Chanel, em Coco Avant Chanel, de Anne Fontaine (2009)

Não poderei dizer que o seu percurso foi imaculado, que a ordem natural e prosaica dos acontecimentos se despoletou sem sujar as mãos. Coco, como lhe chamavam, soube aproveitar o que a genética lhe emprestou, a sua boa disposição, o seu maravilhoso poder de encaixe e fez dos limões uma bela limonada, diga-se de passagem. Pelo meio - porque as histórias bonitas têm o seu lado obscuro - teve de suportar as carícias de um estroina, desrespeitador, que a tinha em algum apreço, mas cuja educação estava longe de fazer dele um cavalheiro em condições. Viveu algum tempo como sua concubina, embora petulante e assertiva, motivo pelo qual despertava imenso encanto. 



Um dia a sorte haveria de lhe trazer um grande amor, Arthur Capel, que é retratado como senhor varonil, de trato fácil e de uma eloquência fabulosa. Infelizmente, viria a casar-se com uma dama do seu círculo social, relegando Gabrielle para um papel pouco honroso de amante. 


Os famosos tailleurs Chanel
Sem Capel não seria, no entanto, possível à Srª. Chanel a independência económica. Depois do atelier em nome próprio a história já é sabida e o percurso foi sempre na direção ascendente. 
Talvez o que melhor se aproveita do exemplo fabuloso de Coco Chanel seja o facto de não se ter resignado à sua sorte. Procurou evoluir, sob todas as adversidades e, embora não lhe possa gabar as escolhas românticas, uma coisa é certa: não foi nenhum trambolhozinho a viver à custa de um qualquer homem. Usou o seu talento e a sua metodologia de trabalho, adquiriu a sua independência económica e gravou o seu nome na história. 

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