sexta-feira, 31 de maio de 2013

Tolstói vai tendo razão.

À medida que se vai amadurecendo - desengane-se quem julga que anda a par com a idade -, compreende-se melhor como o mundo está estruturado, como os vícios são alimentados, como pau que nasce torto, tarde ou nunca se endireita (e os seus múltiplos sentidos figurativos) e como as mensagens de alerta são intemporais.
Pois bem que já dizia Tolstói: "Pensa-se que o ladrão, o assassino, o espião, a prostituta, reconhecendo a sua profissão como má, têm vergonha dela. Na realidade, acontece precisamente o contrário. As pessoas que, pelos seus destinos e pelos seus pecados e erros, caíram numa certa situação, por mais incorreta que seja, formam geralmente para si mesmas uma noção de vida tal que lhes permite imaginar a sua situação como boa e respeitável. Para se considerarem neste ponto de vista, tais pessoas, por instinto, aderem a círculo humano em que se reconhece como correta a noção que formaram da vida e do seu lugar nela. Este facto espanta-nos quando se trata de ladrões que se gabam da sua habilidade, das prostitutas que se gabam da depravação, dos assassinos que se gabam da sua crueldade. E apenas nos espantamos porque o círculo, ou o ambiente, dessa gente é limitado e, antes de mais, porque estamos fora dele. Mas será que acontece o mesmo fenómeno entre ricaços que se vangloriam das suas fortunas, ou seja, da pilhagem, e dos potentados que se gabam do seu poder, ou seja, da arbitrariedade? Não vemos nessas pessoas a deturpação das noções de vida, do bem e do mal, que justifica a situação delas, apenas porque o círculo que adere a essas noções deturpadas é mais amplo e porque nós próprios fazemos parte dele." excerto retirado do romance Ressurreição de Lev Tólstoi.
Alimentam-se as máquinas, defraudam-se expectativas simples e humanas em prol da mesquinhez, da mediocridade, comummente, aceite.
Assim, caros leitores, aceita-se o trabalho infantil, aceitam-se os políticos miseráveis, aceita-se a crueldade gratuita contra os seres vivos, aceita-se a degradação ambiental e aceita-se que, mesmo lendo este trecho, amanhã façamos exatamente as mesmas coisas.

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