quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

E é isso, olhe-se em frente, apesar da tormenta.

Sodom's destruction; Lot and daughters escape;  mosaicos de Monreale Cathedral


Então o Senhor fez chover enxofre e fogo, do Senhor desde os céus, sobre Sodoma;
E destruiu aquelas cidades e toda aquela campina, e todos os moradores daquelas cidades, e o que nascia da terra.

E a mulher de Ló olhou para trás e ficou convertida numa estátua de sal (Gênesis 19:24-26).


Se vos parecer que cai uma tempestade valente, fujam, abriguem-se e deixem correr as águas, porque retomarão o seu curso e estarão a salvo. Não façam como a esposa de Ló, que a mordaz curiosidade transformou em sal. Às vezes, é preciso limpar a cabeça, fazer valer a disciplina, a sensibilidade e bom senso, e, como Ben Howard canta, There'll be oats in the water, There'll be birds on the ground, There'll be things you never asked her, Oh, how they tear at you now; Go your way I'll take the long way 'round, I'll find my own way down, As I should.


O que eu gosto de Oscar de la Renta!



Resort 2013


Inspirações










quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Universo Panton








Inside Llewyn Davis ou onde estão os Coen?


Que grande pena a minha que os irmãos Coen tenham perdido o brilho em Inside Llewyn Davis. Vai-se a ver e lembrou-me Lost Highway, do confuso e inconstante trabalho de David Lynch. Em boa verdade, quando vemos um Burn After Reading, com as misturas improváveis, toda a particularidade sensacional do trabalho dos Coen, percebemos que não podemos esperar sensaboria nem previsibilidade. Uma arma que neles funciona bem e que em Lynch se torna cansativa. 
Depois de alguns Óscares, uma Palma de Ouro pelo belíssimo Barton Fink, seria de esperar um trabalho mais magistral. Não que não o seja, mas auspiciava consideravelmente mais. A aposta em Isaac para Llewyn Davis, o aspirante a estrela de folk music, podia ter sido o calcanhar de Aquiles, mas não me parece que o elenco esteja no âmago da minha desilusão. Talvez a confusão que se gera, lá está, a  lembrar Lynch, no seguimento do filme, que faz com que o espectador finalize com um então era isto? seja o problema, mas não é somente essa a questão. Depois de No Country for Old Men, Fargo ou Blood Simple, dos Coen, esperava uma obra irrepreensível. 

domingo, 26 de janeiro de 2014

Pretty Woman - uma graciosa Vivien

Pela primeira vez, ontem, na televisão, vi o Pretty Woman, de Garry Marshall. O filme é um conto de fadas moderno, pitoresco e rebuscado que vai buscar o que mais naif há num romance: o querer alguém pela beleza que encerra no seu todo, ultrapassando as barreiras morais. É uma estrutura pouco firme para uma relação, mas poderia funcionar. A personagem de Julia Roberts, a jubilosa Vivien, mulher de profissão duvidosa, é rica e explorada de forma a criar uma Gata Borralheira das ruas da má vida. Simpática, enérgica, com um jeito de menina inocente, cria magnetismo e simpatia por parte do público. Quem não se compadece quando a personagem é ostracizada ou posta em linha de fogo pela high society americana? Dei por mim a torcer pelo desenlace feliz entre o cavalheiro bem falante, de modos agradáveis (Richard Gere) e a encantadora meretriz. 
Verdade seja dita, Julia Roberts empresta muito bom ar e um tipo muito distinto de mulher à personagem. Ruivinha, com lindos caracóis, pele clara, esguia e curvilínea - uma mulher se sonho. Se todas as profissionais do sexo tivessem tanta graça e tamanha compleição, minhas senhoras, andávamos todas bem mais amedrontadas. Não o são, certamente, embora as haja bonitas e discretas, daquelas que nunca imaginaríamos que se dedicam profissionalmente à mais antiga das artes. 
Paradoxos e relutâncias à parte, Pretty Women é um marco dos anos 90 por todas essas razões, talvez por marcar um rompimento do paradigma da menina com maneiras deselegantes que se transforma, visualmente, numa distinta dama. Uma dama não o é por vestir bem, é-o nas maneiras e jeitos, mas também na simpatia, no acolhimento, na tranquilidade e naturalidade com que vive os seus dias e isso Vivien tinha de sobra. 

Mango - 2 peças para a Primavera.



O poder das memórias.


Hoje li um artigo interessante sobre o poder dos artefactos no quotidiano de cada um de nós. Consta que damos mais valor, criamos uma relação mais íntima com a nossa torradeira do que com uma estátua polida que temos na sala de jantar. Faz sentido se entendermos que cada um de nós atribui um valor distinto aos seus objectos. Lembrei-me que, para a minha avó, uma senhora sem instrução, lhe é mais querida aquela panela de ferro onde cozinhou a sopa para os oito filhos, do que uma pintura de Botticelli que ela contemplaria, iria considerar o apogeu da beleza, uma verdadeira riqueza, mas que nele não encerra memórias das emoções de 78 anos de vida. Somos regidos por elas. Guardo, religiosamente, os bilhetes de um festival onde actuaram os Franz Ferdinand, tal como guardo o recibo de um jantar inesquecível, assim como guardo uma flor seca, oferecida por alguém por quem nutro verdadeira apreciação. Coisas que, à partida não teriam qualquer valor monetário, no entanto que pautam a vida de uma forma mais humana. 
As necessidades contemporâneas ditam que um designer, quando projecta, não o pode fazer num sentido meramente funcional e belo, deve, pois, fazê-lo também para promover emoções, para criar laços com o utilizador e autenticar-se como um agente de interação social. 

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Chapéus



Sempre gostei de chapéus. Lembro-me que em pequena tive uns poucos, que coordenava ora com vestinhos de Verão - por norma de palha e com uma fita delicada; ora com os sobretudos de Inverno - de lã, bem mais clássicos. Com o passar dos anos, fui deixando de ter paciência para os usar. A roupa tornou-se mais casual mesmo nas ocasiões especiais e não havia grande pachorra para pensar nas toilettes em grande escala. Também era uma época em que comprava poucas peças por ano e queria era gastar o pouco dinheiro em ténis de marca rotineira. 
A verdade é que os chapéus nunca fizeram parte do guarda-roupa das mulheres portuguesas de forma constante, exceptuando as senhoras  cujo dress code os exigia ou aquelas que nasciam com uma herança pesada das famílias mais abastadas.

Felizmente, com a democratização da moda - talvez se possa aplicar a globalização, se entendermos que em alguns países da velha Europa, fazem parte integral da toilette tanto de uma senhora como de um cavalheiro - eles reaparecem mais usuais, descontraídos, em formatos mais andróginos, de forma a acompanhar o estilo feminino do séc. XXI. 
Pessoalmente, considero os chapéus a cereja no topo do bolo, se bem adaptados. Se não for grande adepta do acessório, experimente vários modelos e tente encontrar aquele que mais lhe agrada - por vezes embirramos com um modelo e não conseguimos passar adiante. Se comprar um preto ou camel, conseguirá prestá-lo a combinações infindáveis sem se tornar aborrecido ou descontextualizado.  





Chanel, 1936


Vogue, Maio de 1963


Yves Saint Laurent, 2012

Boca do Lobo - mobiliário de luxo, com assinatura portuguesa.





quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Blazer branco.


Sou assumidamente uma utilizadora do blazer pelas características sofisticadas que confere a um look, simples e polido, sem grandes complicações, mas sempre funcional. O blazer preto, do qual já falei por aqui, atinge a lista de básico eterno, porém, num lugar não menos lisonjeiro, não podia deixar de referir o bonito e despretensioso branco (gelo, off-white, cru, etc). Cai bem com tudo, jeans, calças de alfaiataria, saias, calções... enfim, dispõe-se ao que pretendermos sem grandes dores de cabeça. Depois, como já é sabido, o branco é daquelas cores que pode ser utilizado pela mulher mais pálida à de tez mais escura. Ilumina todas as senhoras, sem mácula e traz um aspecto dispendioso à toilette. Quando coordenado com o preto, carrega um chic diferente, mais clássico, mas dá muito pouca margem para erro. Se não tem, invista. Gosto tanto do conceito do blazer branco, que tenho dois no meu guarda-roupa: um de comprimento pela anca, com lapelas em polipele que uso frequentemente com jeans de lavagens distintas; o outro com apontamentos dourados, mais polido, mais curto, que, embora se preste também aos jeans, uso preferencialmente para coordenados clássicos. 




Dinheiro há muito, mas sabê-lo gastar também é importante.



O canal generalista Sic passou esta semana três entrevistas interessantes a três ex jogadores de futebol portugueses que, basicamente, contaram as agruras de uma vida, depois do apogeu, a contar tostões. A minha mãe costuma dizer, no alto da sua sabedoria empírica que qualquer pessoa pode ganhar muito dinheiro, guiado pela bonança, mas que nem todos o sabem gastar. O que vem, de facto, dar força ao tamanho de disparates que ouvi. Era fulano que gastava em senhoras de fraco gabarito; era sicrano que gostava de estourar dinheiro em carros de alta cilindrada, muito apreciados pelos novos ricos; outro fazia maus investimentos, porque nunca nenhuma alma caridosa lhe advertiu que é preciso bom olho para o negócio e nem tudo o que reluz é ouro. A inteligência não se compra e sigam-se-lhe os exemplos de vida. Se vos sair o Euromilhões, caros leitores, tenham tino, instruam-se com viagens, leituras, com alguns luxos que vos acalentem o espírito, mas também saibam ser comedidos, porque nunca se sabe a que pontos se chega

O caso da t-shirt branca.


Pois hoje reparei que a minha t-shirt branca, em algodão puro, estava rasgada. Um pequenino buraco deu um fim indigno a mais de um ano de relação entre mim e ela. Parece impossível, mas era uma das minhas peças favoritas. Tenho mais t-shirts, mas nem sempre é fácil encontrar a branca, com um modelo soltinho, decote em V - para alongar - e comprimento mesmo no ponto. Agora a busca é por uma substituta à altura. E, por estranho que pareça, despendi de 5 euros na sua compra e usei mais de 50 vezes, sem pestanejar. 


terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Dica de estilo #3


Não há pachorra para o frio e para a chuva, é bem verdade. Mas não há estação mais chic do que o Inverno. Isso não há e podem vir com a conversa maçadora do sol, do calor, da praia e afins que eu fico-me pelos magníficos casacos de frio e as malhas bonitas. 
Pois o estilo a recriar não tem muito que se lhe diga, porém funciona na perfeição. Jeans boyfriend, stilettos, camisola de malha e sobretudo masculino. Por baixo da malha, se houver a necessidade, pode usar-se uma camisa branca (como na imagem). Eu, como não sou muito friorenta, dispenso bem. Finalizamos com uma carteira de qualidade e temos um look bonito, pefeitamente adaptável para o quotidiano se substituirmos os sapatinhos por algo igualmente feminino, mas consideravelmente mais confortável. 

Christian Dior, um aquariano querido pelo público feminino.


Faria hoje 109 anos, e poderia estar vivo - temos Manuel de Oliveira, já com 105, caros leitores -, mas morreu com 52 anos, ainda um moço para as interpretações de hoje. Deixou um legado formidável de criações intemporais e uma Casa verdadeiramente chic, sem pretensões de afirmação nas senhoras pouco polidas ou nos novos riquismos papalvos. 


Pois que descobri que o senhor era um aquariano, tal como eu. Isto dos signos tem muito que se lhe diga ou até nada que acrescentar ao carácter individual, mas consta que o aquariano nasce com habilidades para as artes e que detém uma mente de vanguarda. Verdade ou não, o Sr. Dior foi-o com mestria e qualquer mulher sabe da dívida imortal que tem para com ele. 




Dizem que tinha jeito para a pintura e desenho, mas que era ainda mais hábil a desenhar roupa. Teve a fortuna de estar integrado num grupo de influência e conheceu um importante empresário têxtil, que lhe garantiu uma coleção cápsula. Em 47 inaugurou a Mansão Dior, levado também ele no encalço das exigência de mudança de paradigma do pós-guerra - conceito de New Look carregado de exagero e opulência. Vestidos com 40 metros de tecido, para quebrar o espírito do racionamento. Durante a Segunda Grande Guerra foi mestre nos aliados e vestiu as esposas dos grandes generais nazis. Não sei, todavia, se partilho do seu pragmatismo, mas lá dita a habilidade que em tempo de guerra qualquer canto é uma trincheira.  



segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Dêem-me Dior, senhores!

Christian Dior Cocktail Dress "Margrave" (1948, revista Life)


A perfídia de Boccacio.

História de Nastacio degli Onesti (1483), por Botticelli. 

Podemos ler em Decâmeron de Boccacio, uma das histórias de crueldade mais insana da Renascença. Nela subentende-se a carolice humana, o querer porque sim, aquele se me deixas, mato-me e nunca mais me vês que tantas mulheres e homens usam em tempo de lamúria, com paixões febris e que se vivem apenas por um dos lados, sendo obstante à outra pessoa que se compromete num relacionamento e que decide, por direito à individualidade, por razões várias, por vezes com uma dor dilacerante no peito, que à relação se deve dar um término. 
Nastacio degli Onesti, de Ravena, procura a solidão numa floresta de pinheiros, infeliz por causa da mulher amada, que recusou casar com ele. Vê subitamente a bela mulher, nua, ser perseguida por um cavaleiro a cavalo e atacada pelos seus cães. A cena dramática prossegue, com o cavaleiro dando um fim à vida da donzela, arrancando-lhe o coração do peito e as entranhas, para dá-las como alimento aos cães. 
Porém, para espanto do pobre Nastacio, envolto em estupefacção perante tamanha crueldade, a mulher aparece viva e sem sinais de violência. Regenerara-se graças a um castigo que lhe fora imposto, não só a ela, mas também a Nastacio. Ele, incrédulo, percebe que é castigado pelo suicídio que cometera naquela floresta, desvanecendo de amor pela amada que lhe negara o matrimónio; e ela por lho ter negado, por ter um coração de pedra, por lhe causado tamanha dor, embora no amor não possa haver algozes e vítimas.
A jovem é atacada continuamente, morta e profanada e ressurge com vida passados poucos minutos, recomeçando todo o massacre.  
Atordoado, pede a amada novamente em casamente, para com isso travar a maldição. Ela, até então na veemente convicção de não levar o casamento adiante, reconsidera e aceita enlaçar-se com degli Onesti. 
E lá diz o povo, se não vais lá a bem, vais lá a mal. 


domingo, 19 de janeiro de 2014

Achados - Moschino vintage bag #1

Já faz alguns anos que compro alguns artigos ou pelo ebay, ou pelo olx ou mesmo pelo coisas. Comprar nessas condições, ganha fôlego quando encontramos os verdadeiros achados. Peças vintage de qualidade, quero eu dizer. A última aquisição foi uma carteira Moschino, em pele, em estado perfeito. 


Amy Adams, ruivinha esperta.

A menina é bonitinha e tem uma daquelas elegâncias de mulheres de tez clara, muito imperiais. É raro ver-lhe algo pelo qual me apaixone. Ou escolhe os tediosos nude que pouco fazem por ela ou inventa de usar uns decotes género cai-cai que lhe ficam, sejamos honestas, mal. 
Quando vi o modelo seguinte, ia jurar que era Stella McCartney, mas não é, minhas senhoras. Trata-se de um Antonio Berardi lindo de morrer, sem brilhos, polido, bem ajustado ao corpinho e com uma cor fabulosa que foi lindamente com a sua pele de porcelana.  Styling também perfeito - cabelinho ruivo com apanhado clássico chic. E é assim que uma senhora se apresenta em ocasiões que requerem elegância ao extremo. 


sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Dica de estilo - outfit by Christopher Kane #2


Não tem muito que saber e funciona sempre: jeans, slippers e camisa branca. Não há como errar. Aqui o toque especial são os jeans rasgados, mas se não for adepta deles, pode dispensá-los perfeitamente. Com uma carteira bonita, tem um outfit casual sem esforço. Agora com o frio, vista um blazer, um bomber jacket ou denim jacket e um sobretudo para se proteger - vestindo-se por camadas.  

Falabella

Tivesse eu dinheiro e não pensava duas vezes em comprar a Falabella faux brushed-leather bucket bag, de Stella McCartney




Color me


Dizem os especialistas que o rosa vai ser a cor forte para o tempo quente. Na verdade, há imensas tonalidades de rosa, desde o pálido, quase porcelana ao quase fluorescente. Para mulheres de pele leitosa, o mais indicado é um rosa bastante assumido, bem forte para criar um paradoxo entre a tez e a roupa. Há também mulheres de pele muito clara que optam por rosas pálidos, pastel. Não fica mal, mas esmorece a figura a menos que a maquilhagem esteja irrepreensível e acabe por dar a luz que falta, nomeadamente um bâton vermelho ou um eyeliner bem definido. 


As mulheres de tez trigueira ou negra devem optar pelos rosas mais delicados, embora não lhes seja proibido os tons mais fortes. A regra é mesmo criar ao seu gosto. Desde que se sinta bem, arrisque.


Looks monocromáticos, só me arrisco em preto, branco ou vermelho, mas há quem faça funcionar com o rosa. Bom senso e visual polido devem ter-se em conta, mas é possível criar visuais muito interessantes. 


Não possuo uma única peça rosa no meu guarda-roupa. Talvez me aventure por uma ou outra peça, mas mais como apontamentos de cor com jeans e parte de cima branca ou preta, nuns sapatos bonitos ou numa carteira.