quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Sensibilidade e bom senso

Simone de Beauvoir
Simone de Beauvoir faria hoje 106 anos se ainda fosse viva. Pouco provável para uma mulher que viveu com tamanha intensidade. Dedicou-se, entre uma imensidão de coisas, aos estudos feministas - Segundo Sexo -, em meados do séc. XX, pouco depois da Segunda Grande Guerra ter terminado, levada no encalço das mudanças abruptas que seriam obrigatórias na educação e mentalidades das senhoras da época. 

Retrato a óleo de Jane Austen
Muito antes dela, já outras o fizeram. Jane Austen, em plena revolução industrial, seguiu os novos valores e rompeu com tradições já enraizadas há séculos no papel feminino na sociedade. Coincidência ou não, a escritora nunca viria a casar e conseguiu a sua independência financeira à custa da sua desenvoltura para a escrita e a sua incontornável capacidade de observar o comportamento humano. 

Longos anos passados, imortalizaram-se mulheres de força e vontades indestrutíveis, mas esqueceu-se a sua importância e a sua mensagem passou a ser indecifrável para as gerações de mulheres do séc. XXI. Talvez tenha havido uma confusão criada a certo ponto. Quando falamos de Sensibilidade e bom senso, falamos de saber ser-se mulher. A uma senhora pertence delicadeza, saber estar, bem vestir, falar com modos, manter o seu orgulho e a cabeça erguida em todas as situações, conhecer a sua força, mas também as suas fragilidades. Trabalhar o que se tem de agradável e mitigar o desagradável, porque nem todas nascemos com a mesma instrução e/ou educação. Self made woman é, talvez, o termo mais aplicável para as necessidades da contemporaneidade. Buscar conhecimento onde há lacunas evidentes, ser incansável no resgate das boas maneiras e aprender onde é o seu lugar. Cada coisa no seu lugar, cada pessoa com o seu espaço e o seu propósito. 

Sense & Sensability de Ang Lee, baseado no livro homónimo de Jane Austen
Ter direito ao voto, a romper matrimónios, à independência económica, à sexualidade desprovida de falsos moralismos, não invalida que não sejamos polidas. Hoje as senhoras perdem-se em trivialidades, como há 100 anos. No entanto fazem-no de forma mais escabrosa, talvez até mais rudimentar. Boçalidade nunca será agradável, passem-se os anos que se passarem. Jeitos de meretriz, vocabulário escasso, cabecinhas ocas e mentalidade de Casa dos Segredos não faz nada por nenhuma mulher. 

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