sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

O segredo da carteira Andy ou o génio de Carolina Herrera.


Se há carteiras icónicas, que ultrapassam as barreiras pueris das tendências, dos novos riquismos papalvos e da deselegância constante que já vem sendo usual, uma delas, com o mérito devido, seria o modelo Andy, de Carolina Herrera, a designer venezuelana de elevado bom gosto. 
Um elemento de luxo despretensioso, que passa despercebido, sem marcar demasiado uma toilette, se escolhida em cores sóbrias. Tenho pena, porém, que o material continue a ser pele genuína, havendo à disposição uma enormidade de materiais de elevada qualidade, sintéticos e muitíssimo ecológicos, cuja durabilidade está comprovada. Veja-se a marroquinaria e calçado Stella McCartney, a título exemplificativo. 

Carolina Herrera 


O que faz da Andy uma carteira genial, creio que está nas suas dimensões (de pequena a média), no design polido, pensado para agradar a gregos e troianos, mas essencialmente a mulheres de bom gosto, que gostem de simplificar. 
Não sei se a senhora Herrera tinha noção de que, no processo da criação, iria fazer surgir um ícone, mas que foi inegavelmente bem pensada, isso foi. Honras sejam feitas ao seu trabalho. 



sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

As mulheres que sustinham o mundo no ar.


Mercedes Barcha Pardo e Gabriel García Márquez

Creio que as mulheres sustêm o mundo no ar, para que não se desfaça enquanto os homens tratam de empurrar a história. No fim, perguntamo-nos qual das duas coisas será a menos sensata. 


Gabriel García Márquez e Plinio Apuleyo Mensonza, em O Aroma da Goiaba (1982)

Trata-se de uma visão assaz poética da condição feminina. García Marquez, no mesmo livro, retrata a sua esposa de uma vida, como uma senhora de temperamento dócil, que lhe acompanhava os sonhos, mesmo que lhe parecessem, muitas vezes, perfeitos disparates. Mercedes Pardo, como se chamava, talvez fosse a força motriz do seu trabalho. Sem ela, jamais teria escrito Cem Anos de Solidão. E desse modo, da minha parte, um grande obrigada.  
Era um homem como os nossos avós, todavia mais gentil e eloquente. Via a mulher como um ser refinado, tranquilo, que sustinha o mundo no ar. Acredito que haja alguma verdade nisso, como acredito piamente que os homens ajudaram a empurrar a história e fizeram, igualmente, dela muito mais violenta e cheia de ardis. Levados sob o sopro feminino? Talvez. 
O facto é que atualmente o papel feminino na sociedade é diferente, mais activo e diplomático. Honras sejam feitas às senhoras que hoje conseguem manter uma disciplina exímia no conjugar da vida social, profissional e íntima. A mulher que seja polida, educada, que saiba estar e que saiba honrar a sua condição, tem o meu inestimável apreço. 
No entanto, para pena de tantos, vislumbram-se leves sombras, muito pobres das mulheres para as quais o mundo contemporâneo foi talhado. Pretendeu-se a liberdade de oportunidades e de escolhas, cedidas a ferros, mas aqui as encontramos hoje, demasiado mal aproveitadas. Repito-me imensas vezes sobre este assunto, porque considero que as mulheres estão disparatadas, melindrosas, amasculinadas, indecorosas e estupidificadas. Veja-se o fenómeno vergonhoso da correria desenfreada pelos romances de cordel mal atado, das 50 sombras de Grey desta vida. Procuram ocupar um cérebrozinho preguiçoso com disparates deste tamanho, fazem birras porque querem um homem como os dos filmes, mas comportam-se como umas saloias. Pois em relação aos homens, tenho uma máxima que, raramente, me deixa mal: primeiramente, observem com paciência de eremita o que lê. Se, por mal dos vossos pecados, vos aparecer algum aficcionado por Pedro Chagas Freitas, Paulo Coelho ou por tantos outros autores emergentes de araque, fujam. Que, para além de um mau gosto inquestionável, deve ser um choramingas de todo o tamanho. E para isso, caras senhoras, já se bastam as mulheres. 

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

A maldição dos chunky heels.

Stella McCartney

Ora bem podia ser o nome de um filme de terror dos anos 90, mas trata-se mesmo do calçado que a mulherada adora.  Stella McCartney foi o nome mais sonante no seu ressurgimento, no entanto outros já o haviam tentado. Assumidamente, nem casas de elevado bom gosto lhes resistiram (veja-se Dior, Chanel, Celine ou Miu Miu, só para enumerar algumas). 

Uns bonitos botins Miu Miu

A inspiração surge dos anos 70, década de exageros e controvérsias várias ao nível social. Se até então houve necessidade de se alterar o paradigma do salto refinado, muito elegante e até um pouco coquette, não creio que hoje seja preciso cair-se em tamanho descomedimento.  


De há uns tempos para cá, felizmente, a tendência assumiu-se menos grosseira, e o calçado feminino lá retomou o bom caminho. Tropeços à parte, também eu tive o meu par de chunky heels e quem não se lembra da histeria das litas? No entanto, lá se ficaram em 2013 e, valham-nos todos os santinhos, tão cedo, não me parece que voltem, embora admita que podem ter algum encanto quando bem introduzidos numa toilette revivalista, por exemplo. 
No entanto, com litas postas de lado , que raio andam a calçar as mulheres portuguesas? Julguei que o disparate tinha amainado e que voltaríamos todas ao bom caminho, aos mares calmos dos botins despretensiosos, de boa qualidade, aos stilettos em cores neutras e básicas, sem grande alarido, às bonitas e elegantes ballerinas. Pois pareço ter-me enganado e anda uma razia de gente a calçar como as desmioladas da Casa dos Segredos, assim muito ao estilo Seaside, para acompanhar em bom as leggings de lycra e o casaquinho de pêlo sintético da Bershka. 

O malfadado botim. 





segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

O pecado da indiscrição.

Thomas e Sarah, em Downton Abbey.

A par da falta de modéstia, considero a indiscrição uma falha demasiado proeminente para se poder perdoar. 
A modéstia é uma virtude inestimável e, na verdade, não se dissocia assim tanto de um indivíduo decoroso. Por outro lado, alguém que não prima pela modéstia dos actos, que tão bem inclui o saber-se estar e ocupar o devido lugar, não saberá tampouco ser discreto. Quando alguém se mune de tamanhas características, alarmem-se, porque está na hora de fugir. 
Há uns dias, em conversa trivial, alguém me disse que não gostava de deixar as portas de sua casa aberta a qualquer pessoa que estimasse, sob pena do convidado não se esmerar na boa educação e de lhe faltar o recato que a sua condição obriga. Entretanto, lembrei-me, a propósito, que todos nós cometemos a insanidade, de uma ou outra vez, baixar a guarda e deixar-se atropelar por conhecidos pouco amigáveis, por assim dizer. Conheci almas, para mal dos meus pecados, mais do que duas ou três, que comentavam alegremente, em voz estridente para serem bem ouvidas, que em casa de Fulano se comia isto e aquilo, que em casa de Sicrano se passava assado e cozido... 
Se em boa verdade, nem todos fomos afortunados com uma educação exímia e que atire a primeira pedra quem nunca pecou, também é verdade que há uma obrigação tanto ao nível moral como social de nos polirmos. Não se aprende em dois dias, mas não leva uma vida, como alguns possam pensar. Como se diz por aí, mais vale tarde do que nunca. 

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Made in...

Fábrica têxtil, algures na Índia. 

A propósito deste assunto, que não me canso de reforçar quando tenho oportunidade, ontem, numa conversa banal com a minha irmã, ela contou-me que adquiriu um kispo da coleção de Inverno 2014/15 Calvin Klein, caríssimo, muito acima do expectável por diversas razões. Pedi-lhe gentilmente que verificasse o país de fabrico. Consternada, respondeu-me que era Índia. 
Se, por um lado, estas empresas milionárias contam com a despreocupação dos consumidores, também se aproveitam, de igual modo, de quem vai na firme convicção que, com preços tão avultados, promove o comércio justo. 
Da mesma forma que podemos interpelar um consumidor que paga 3 euros por uma t-shirt com a inconsequência do seu acto, pode-se chamar a atenção ao consumidor que julga pagar o suficiente para mitigar as más condições de trabalho e promover um consumo mais responsável? 
Na dúvida, não se fiem nas marcas e nos preços estabelecidos. Usem em vosso proveito as etiquetas. Embora não possamos erradicar do mundo toda a injustiça social, consumidores informados e conscientes adquirem um poder inimaginável. 

O sexo e a cidade - a evolução e o disco riscado.

Charlotte, Samantha, Carrie e Miranda, em O Sexo e a Cidade

A icónica O Sexo e a Cidade passa agora na FoxLife e não há dia que não reveja as aventuras sentimentais das quatro raparigas que marcaram um rompimento do paradigma televisivo nos anos 90 e princípios do novo milénio. Embora quase com 10 anos desde o final da série, em 2006, mantém-se imensamente actual e creio que, no comportamento feminino e no que às relações românticas diz respeito, não deverão ocorrer, para breve, grandes mudanças que releguem a obra para algo obsoleto, que fez sentido em determinada época, mas ultrapassada.
As duas últimas temporadas talvez sejam as mais ricas, porque é-nos possível perceber uma evolução significativa em Carrie, Samantha, Miranda e Charlotte.
Miranda torna-se mãe, atropelando todas as expectativas da própria. A maternidade não é amaciada com tontices de mulheres hormonalmente desequilibradas. É algo bem mais cru, trabalhoso e castrante.
Aidan e Carrie, em O Sexo e a Cidade
Carlotte passa por um divórcio, depois das suas crenças infundadas se verem esmagadas sob o peso da realidade.
Samantha apaixona-se por um rapaz encantador que lhe ensina a ser uma mulher mais ponderada e respeitável.

Quanto a Carrie, talvez seja a que acaba a série da pior forma possível, ao lado de um homem com nobres trejeitos, porém de atitudes grosseiras e medíocres.
A evolução sentimental da última personagem foi residual. O homem mais sensato e apaixonado, Aidan, não se adequava às expectativas de uma relação fulgurante, cheia de entusiasmo e errelias. Apesar de parecer paradoxal, a calma pode ser mais fatal do que as tropelias. Já Berger, tonto, mal resolvido, repleto de esqueletos no armário, enegrecido pelas sombras da relação anterior, não poderia ser uma solução, mas um problema ainda maior do que foi Big. Pelo que, seria possível decifrar que de um copo sujo, ninguém bebe água limpa. E sobre isso, talvez me detenha daqui a algum tempo.