segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

A perfídia de Boccacio.

História de Nastacio degli Onesti (1483), por Botticelli. 

Podemos ler em Decâmeron de Boccacio, uma das histórias de crueldade mais insana da Renascença. Nela subentende-se a carolice humana, o querer porque sim, aquele se me deixas, mato-me e nunca mais me vês que tantas mulheres e homens usam em tempo de lamúria, com paixões febris e que se vivem apenas por um dos lados, sendo obstante à outra pessoa que se compromete num relacionamento e que decide, por direito à individualidade, por razões várias, por vezes com uma dor dilacerante no peito, que à relação se deve dar um término. 
Nastacio degli Onesti, de Ravena, procura a solidão numa floresta de pinheiros, infeliz por causa da mulher amada, que recusou casar com ele. Vê subitamente a bela mulher, nua, ser perseguida por um cavaleiro a cavalo e atacada pelos seus cães. A cena dramática prossegue, com o cavaleiro dando um fim à vida da donzela, arrancando-lhe o coração do peito e as entranhas, para dá-las como alimento aos cães. 
Porém, para espanto do pobre Nastacio, envolto em estupefacção perante tamanha crueldade, a mulher aparece viva e sem sinais de violência. Regenerara-se graças a um castigo que lhe fora imposto, não só a ela, mas também a Nastacio. Ele, incrédulo, percebe que é castigado pelo suicídio que cometera naquela floresta, desvanecendo de amor pela amada que lhe negara o matrimónio; e ela por lho ter negado, por ter um coração de pedra, por lhe causado tamanha dor, embora no amor não possa haver algozes e vítimas.
A jovem é atacada continuamente, morta e profanada e ressurge com vida passados poucos minutos, recomeçando todo o massacre.  
Atordoado, pede a amada novamente em casamente, para com isso travar a maldição. Ela, até então na veemente convicção de não levar o casamento adiante, reconsidera e aceita enlaçar-se com degli Onesti. 
E lá diz o povo, se não vais lá a bem, vais lá a mal. 


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