sábado, 18 de abril de 2015

Begin Again e os recomeços de John Carney.

Keira Knightley e Adam Levine em Begin Again (2014), de John Carney

Conheci o trabalho de John Carney em 2007, através de Once, filme despretensioso, de baixo orçamento, lindíssimo. Na altura, a música original, Falling Slowly ganhou, de resto, com todo o mérito, o Óscar de melhor canção original. 
O sua mais recente criação é Begin Again, com muita da essência que vemos em Once, mas ligeiramente mais comercial, com atores da primeira linha de Hollywood. Veja-se Keira Knightley que, raramente opta por filmes deste género ou mesmo Mark Buffalo, num registo não muito longe do qual habituou o seu público. O calcanhar de Aquiles para os fãs do cinema mais modesto é a presença de Adam Levine, sobre o qual sou suspeita para falar, devido à sua exposição mediática e trabalho fraquinho nos Maroon 5. Mas isso, caros leitores, são gostos e nunca me deixei levar por egos demasiados inflamados. 
Adiante, que é, afinal, de John Carney que quero escrever. Se contemplarmos, com parcimónia, os dois trabalhos há linhas muito semelhantes, que, por norma, funcionam lindamente no cinema. Vejamos: um rapaz, interpretado pelo músico Glen Hansard, encontra uma intrigante rapariga, depois de uma separação dolorosa, o que ajuda a superar o período de luto. Assim como Gretta, em Begin Again,que se refugia na música, com ajuda de um produtor falido, depois da rotura com o seu namorado de longos anos. Ambos são feridos com a infedelidade dos antigos companheiros e tentam, sob todas as adversidades, ultrapassar os problemas e seguir em frente. 
Isto tudo, ao som de músicas maravilhosas, de uma simplicidade abismal. Em Begin Again, com Lost Stars (nomeada também ao Óscar), interpretada por Adam Levine - o maior pecado do filme, não me canso de repetir e que empresta um não sei quê de foleiro à música, se comparada com a versão cantada por Keira Knightley.

Glen Hansard e Markéta Irglová, em Once (2006)

De facto, todo o enlevo da obra está exatamente na necessidade de recomeçar. Em relação a Once, a personagem opta por perdoar, sob um impulso fatalista, a antiga namorada e exorciza através da música todos os rancores e dúvidas, de forma a encontrar a paz que precisa para abordar, de novo, uma relação doente. Gretta, porventura, mais consciente de si e do seu valor intrínseco, - característica que vai fazendo falta às mulheres do séc. XXI- decide seguir sozinha o seu caminho, sabendo, à parida, que merece um amor pleno. 
Para além do deleite musical, de tudo o que envolve um bom filme, Carney é, essencialmente, bom a fazer cinema porque compreende, com estranha beleza, a complexidade de um recomeço.  

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