segunda-feira, 15 de julho de 2013

Questões de amor.



"Luís de Camões, em sua existência anedótica, tem razão em maldizer das funestas estrelas que lhe frustraram os sonhos de amoroso, as ambições de soldado, as comodidades de funcionário, e, também, em certa medida, os triunfos de poeta; mas, se pudesse prevê-lo, quanta razão para ser grato às estrelas propícias que à sua vida essencial condicionaram ser ainda hoje o poeta mais vivo de Portugal."
Hernâni Cidade no Prefácio de Luís de Camões, Obras Completas, Vol. I
Tinha 14 anos quando a exemplar professora de Língua Portuguesa me falou de Camões. Contou, com uma paixão que nasce connosco, nas entrelinhas a sua vida, os desamores, a fortuna e o fado que o acolheu até o último suspiro.
Certo dia, pediu-nos para nos sentarmos em silêncio, escureceu a sala, ligou um televisor gigantesco e poeirento, e vimos Camões, ano de edição de 46, com o belíssimo António Vilar no papel do "falcão que perdeu a pena".
A partir desse dia, conheci uma paixão platónica pela sua excelência, pela febre dos seus poemas, não me referindo apenas às suas peças e à imortalidade de Os Lusíadas.
Ferido na sua angústia de poeta, que sente não só na alma como lhe ardem as mãos sob o mandamento único de expurgarem a sua dor, Camões compreendeu, de forma exímia, que o amor é algo que mata, que fere, que dilacera, mas do qual não se pode fugir. Por tudo isso, ainda hoje o amo como há treze anos.
"Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?"


Luís de Camões

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