quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Um belíssimo engano.



Há bastante tempo não via um filme tão belo e prosaico como The Theory of Everything. Baseia-se na vida privada do casal Jane e Stephen Hawking, mais concretamente no livro que a primeira senhora Hawking lançou, com o título Viagem ao Infinito.
Ressalvo, nesta dissecação, que não li o livro nem faço pretensões de ler, portanto, foco-me no filme e nos numerosos artigos que consultei, dando conta de algumas incongruências. 
Existe todo um enlevo magnífico que prende o espectador ao ecrã e que transporta para um clima de romance puro, uma mística muito cinematográfica que, raramente, ultrapassa a ficção. Quando Jane aceita, resolutamente, casar com Stephen - um homem de intelecto evoluído e deslumbrante -, apesar da sua condição de enfermo, acontece imediatamente um ligação generosa com a personagem, interpretada por Felicity Jones. 
No entanto, e já nos basta os tormentos naturais de uma relação ao longo dos anos, soma-se aqui um elemento de stress que foi sendo, ligeiramente, aniquilado durante o filme: a doença degenerativa de Stephen Hawking. 
Jane aparece como uma mulher de poucos sonhos, devota, não se lhe conhecem amigos e acaba por se interessar pelo professor de piano dos seus filhos, um homem honesto e ponderado, que se mostrou irredutível na certeza do seu amor. 
Os votos acabaram por se quebrar quando Hawking se aproxima da sua enfermeira, Elaine Maison, em 1995, depois de  30 anos de casamento, terminados com um incongruente diálogo, no qual Jane apenas reafirma que foram demasiados anos sob tamanha pressão. 
Soma-se a toda esta pacificidade a esplendorosa The arraival of the birds, da Cinematic Orchesta e temos as derradeiras cenas do conto de fadas, com uma retrospectiva de um casamento pacifico e, acima de todas as probabilidades, feliz. 

Porém, analisando os factos, não há grande lugar a histórias de princesas e príncipes. Houve uma mulher, que no filme aparece quase aniquilada, com aspirações e sonhos, que teve amigos, que teve paixões e que existiu para além da personalidade de Stephen Hawking. 

Contrariamente ao que ficou latente no filme de James March, o matrimónio não se desfez com palavras afáveis e o relacionamento com Elaine Maison, a enfermeira de comportamento dúbio e tosco, foi um pequeno tormento para o físico renomado, havendo, inclusive, rumores de violência doméstica. Verdade ou não, há que não esquecer da máxima de que what goes around comes around.
E desta forma, caiu por terra talvez o filme mais belo do ano, com especial ressalva para o trabalho de Eddie Redmayne, que talvez seja congratulado com o Óscar. 

Sem comentários:

Enviar um comentário